Eu acredito que dar a cara a tapa é bom. Gerará controvérsias, mas prefiro assim.
Hoje, o Brasil conheceu o terror da loucura, do imponderável. E muitas pessoas proferiram soluções miraculosas ou desabafos com “solucionáticas” pontuais. Alguns enumeraram ações passadas como causas do consequente massacre na escola de Realengo. Mas só quem experimentou de perto a loucura consegue, mais do que estimar, perceber o potencial que ela tem (não tem).
A loucura não reconhece a lógica, não dialoga. Ela é gerada espontaneamente e germina e brota e cresce e se reproduz e permanece e morre. Morre, mas não sem antes deixar suas marcas. E como são dolorosas. Como são profundas. Como são lembradas.
Com o tempo a dor até pode passar. O tempo é sábio. A memória, tola.
Quando alguém se propõe ao mal, não há remédio que a impeça. Não há vacina que a neutralize. Um artefato indecifrado pelos mais cientes se apressa em elaborar caminhos. O cérebro se especializa. A intenção é tão cruel que monopoliza um ser inteiro. Alguém que já fora uma criança com sonhos bons, se transforma. Se curva a si mesmo – ou a outro si.
Por dentro, se especializa. Dissimula. Cria. Projeta. Maquina. Descontrói-se para eclodir um ideal. Mal ou bem, custe o que custar. Mau! Mau, o faz bem.
Foram armas de fogo. Foram disparos em crianças. Maioria de meninas. Na cabeça, no tórax. Em crianças. Em crianças! As nossas crianças!
Quando ouvimos a notícia, a projetamos para dentro de casa. conjugamos o fato na terceira pessoa do plural ou na primeira: os nossos! Pior, os meus!
Resta a revolta. E nela o desabafo!
“Foi o plebiscito do desarmamento”
“Porque não havia detectores metal?”
“Onde estava a polícia?”
Procuramos causas para o efeito. Culpados para dedicarmos nossa insatisfação. Mas a verdade mais dolorosa, a mais temerosa, é que não há porquês que especifiquem o caminho da loucura. Ela é. Sem complemento.
Por acaso foi com armas de fogo. Por acaso não foi com uma bomba amarrada ao corpo. Por acaso não foi com um carro em alta velocidade. Por acaso não foi. Por acaso foi.
A vida é frágil. A morte é fato. A vida é nossa.
Diante da tragédia, podemos repensar a vida. O abraço no filho antes de ir a escola. O beijo no pai antes de sair para o trabalho. O pedido de perdão! - antes da sepultura. O eu te amo antes da saudade.
Viver hoje é um velho conselho. Mas, loucos, continuamos olhando para adiante desprezando o presente.
Ah, quanta justiça viria ao mundo se vivêssemos agora!
“Louco! Esta noite pedirão a sua alma”