segunda-feira, 18 de abril de 2011

Páscoa

 

Diga-me que gostaria de me ver outra vez.
Diga-me que será breve, mas que o tempo não importa.
E que vai pensar em mim.
Diga com um sorriso nos lábios,
ainda que com um lágrima nos olhos,
e eu voltarei para você.
Para tê-la mais uma vez comigo
nem que seja num abraço.

Mas não faça com que me sinta mal
por ter que seguir o meu caminho.
Diga que sentirá saudades.
Diga!
Pois nessa despedida eu sei
- e só sei!
Que sentirei o mesmo.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Transgenia

Como podem bons frutos serem gerados se não existem jardineiros zelosos?

Em um tempo sem tempo onde a quantidade é o que mais conta; tempo em que medem o sucesso de um trabalho pela repercussão gerada por ele; como serão gerados bons frutos?

Preparar a terra, esperar a estação, plantar a semente, regar, podar, regar, podar, apoiar o frágil caule, podar sempre, regar sempre, colher.

Mas se há espinhos? Se houver pragas? Se o terreno não for tão bom? Se não houver tempo? Se a árvore gerar frutos amargos? Se for muito fibroso, pouco caudaloso? E se não for vistoso?

E se eu puder poupar recursos, diminuir os riscos de rejeição, aumentar a eficiência? E se as sementes forem mais fortes? Se a terra for mais forte?

Seria tão bom poupar esforços. Cortar caminhos. Aumentar a lavoura. Ser reconhecido.

E ser amado, quem quer?

Amar o quê? Frutos e lavouras?

E se fossem pessoas?

E se as pessoas não forem lavouras?

E se as pessoas forem lavouras?

Vamos modificá-las! Torná-las mais fortes! Vamos reunir os engenheiros, os pesquisadores!

Vamos mudar a natureza! Somos seres adaptáveis!

Somos medrosos e preguiçosos e egoístas…

Enquanto olho para o meu umbigo em busca do meu sucesso para me tornar independente dos outros, matamos nossos jardins, esmagamos nossos frutos, sufocamos nossa lavoura.

Mudarei eu em detrimento de mim? Ou mudarei o mundo a favor de mim?

Que tal uma humanidade transgênica, uma humanidade reformada pelo próprio homem? Que mude de dentro para fora, que não tenha escolha.

Já pensou seu filho assim? Melhorado geneticamente?

E se der certo e ele for saudável? E se der errado?

E se já estiver dando errado?

Porque está.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Baile

Música.

Dois.

Livres.

Percepção.

Olhos-Lábios-Pensamentos-Impulso-Recuo-Desejo-Renúncia ----------- Desejo!

Movimento.

Coração.

Lentidão.

Medo.

Aproximação.

Risco.

Sorriso.

Vergonha.

Sorrisos nos lábios.

Coração-Coração-Coração.

Mãos.

Braços.

Música.

Dança.

Dançam!

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Em quantos leitos você pode dormir em uma noite?

Eu acredito que dar a cara a tapa é bom. Gerará controvérsias, mas prefiro assim.

Hoje, o Brasil conheceu o terror da loucura, do imponderável. E muitas pessoas proferiram soluções miraculosas ou desabafos com “solucionáticas” pontuais. Alguns enumeraram ações passadas como causas do consequente massacre na escola de Realengo. Mas só quem experimentou de perto a loucura consegue, mais do que estimar, perceber o potencial que ela tem (não tem).

A loucura não reconhece a lógica, não dialoga. Ela é gerada espontaneamente e germina e brota e cresce e se reproduz e permanece e morre. Morre, mas não sem antes deixar suas marcas. E como são dolorosas. Como são profundas. Como são lembradas.

Com o tempo a dor até pode passar. O tempo é sábio. A memória, tola.

Quando alguém se propõe ao mal, não há remédio que a impeça. Não há vacina que a neutralize. Um artefato indecifrado pelos mais cientes se apressa em elaborar caminhos. O cérebro se especializa. A intenção é tão cruel que monopoliza um ser inteiro. Alguém que já fora uma criança com sonhos bons, se transforma. Se curva a si mesmo – ou a outro si.

Por dentro, se especializa. Dissimula. Cria. Projeta. Maquina. Descontrói-se para eclodir um ideal. Mal ou bem, custe o que custar. Mau! Mau, o faz bem.

Foram armas de fogo. Foram disparos em crianças. Maioria de meninas. Na cabeça, no tórax. Em crianças. Em crianças! As nossas crianças!

Quando ouvimos a notícia, a projetamos para dentro de casa. conjugamos o fato na terceira pessoa do plural ou na primeira: os nossos! Pior, os meus!

Resta a revolta. E nela o desabafo!

“Foi o plebiscito do desarmamento”

“Porque não havia detectores metal?”

“Onde estava a polícia?”

Procuramos causas para o efeito. Culpados para dedicarmos nossa insatisfação. Mas a verdade mais dolorosa, a mais temerosa, é que não há porquês que especifiquem o caminho da loucura. Ela é. Sem complemento.

Por acaso foi com armas de fogo. Por acaso não foi com uma bomba amarrada ao corpo. Por acaso não foi com um carro em alta velocidade. Por acaso não foi. Por acaso foi.

A vida é frágil. A morte é fato. A vida é nossa.

Diante da tragédia, podemos repensar a vida. O abraço no filho antes de ir a escola. O beijo no pai antes de sair para o trabalho. O pedido de perdão! - antes da sepultura. O eu te amo antes da saudade.

Viver hoje é um velho conselho. Mas, loucos, continuamos olhando para adiante desprezando o presente.

Ah, quanta justiça viria ao mundo se vivêssemos agora!

“Louco! Esta noite pedirão a sua alma”

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Pense! pense. pense? pense… peeeen-se

Você já pensou se tudo o que você pensasse ficasse escrito em algum lugar? Não estou dizendo isto como uma denúncia sobre maus pensamentos que gerarão remorso. Digo, principalmente, para registrar aqueles momentos em que somos brilhantes, que temos aquela ideia ou compomos aquele verso ou aquela frase de efeito bacana. Seria divertido olhar para essas letras conjugadas fisicamente em algum lugar visível. Como seria? Quem sabe uma caverna que só você saiba o caminho? Talvez um livro pesado, denso, imponente, de capa vermelha e com seu nome escrito em dourado. Acho que a apresentação deveria ser tão importante quanto o conteúdo. Mas quem controla o que pensamos? Não têm os pensamentos vida própria? Eles vêm e vão sem que você opere grandes mudanças ou sutis retoques. Apenas surgem. Por vezes, persistem em momentos inoportunos como numa conversa a dois ou enquanto você tenta, simplesmente, dormir. E eles vêm. Em gotas, em enxurradas, em plágios, em músicas, com ritmo, si-la-ba-dos… Nos fazem pensar e se sobrepõem. Uma música é lembrada e, sem que você perceba, se transforma numa trilha sonora silenciosa para lembranças, projetos e devaneios. Sonhos. Alguns são tão intensos e rápidos que mais parecem relâmpagos. Outros parecem ter complexo de vaga-lume: vêm – somem – voltam, aqui – ali – acolá, espantam – desaparecem – ressurgem – somem. Somem. A maioria some. Você já pensou se tudo o que você pensasse ficasse escrito em algum lugar?

terça-feira, 5 de abril de 2011

Será que me citam?

4h30 da manhã. Reviro de um lado para o outro da cama. Penso na vida. Penso na morte. Penso. Família, amigos, mulher, psicólogo, pai, exs, mágoas, sorrisos, alegrias, outros, terceiros. Uma frase, outra e um parágrafo. Uma citação. Sem aspas. Minha - pretensão. Penso. Relembro. Refaço, releeio em minha mente, concluo. Estalo! Levanto, acendo a luz e escrevo:

Se os seres humanos fossem perfeitos e o magoassem, restaria a certeza de que são maus. Porém se o magoam porque são falhos, por que não amá-los? Afinal, você também deve ser um imperfeito amado.

Gostaram?